6.3.10

O menino bochechudo (parte 2)



            O menino, agora não mais bochechudo, acordou com dores inexplicáveis na bunda que só tinham uma explicação: uma minhoca: ela disse:
            - Oie...
            Por mais que estivesse assustado e com a cabeça enfiada numa banheira cheia de gelo num apartamento desconhecido e abandonado, respondeu com a educação que sua mãe lhe dera:
            - Oi.
            - OMG!!! Um menino falante...
            - E sem bochechas – completou. – Você as viu por aí?
            - lol não vi...
            - A propósito, meu nome é – mas foi interrompido por uma minhoca.
            - lol lmfao
            - Quê?
            - Você está com uma expressão tão triste.
            - É que eu fugi de casa e agora estou sem bochechas... Eu só queria saber qual é a cor do céu.
            - Sim, sim, eu já li isso. Até comentei, não viu?
            - Quê?
            - lol eu não posso te ajudar a recuperar suas bochechas, mas posso te dizer qual é a cor do céu.
            - E qual é?
            A minhoca pulou pela janela do apartamento e pôs-se a escavar. O menino foi dar um molhadinha no buraco e, só no tempo dele andar até a janela, o túnel já atingira a luz do sol, que brilhava intensamente com seus raios ultravioleta incitando a produção de melanina pela primeira vez naquele menino pálido e underground.
            Era muito loooka a sensação da sua pele queimando lentamente e suas células sofrendo mutações cancerígenas. As cores estavam mais intensas e tudo era aveludado. Um cachorro ofereceu um copo d’água.
            - Não, obrigado, estou assistindo a esse show do Jonas Brothers.
            - When you look me in the eyes and tell me that you love me everything's alright when you're right here by my side.
            Tipo, o mundo tava se expandindo mais e mais e o olho do menino não conseguia acompanhar pois a própria luz do sol o tampava.
            - Azul – disse uma voz misteriosa – com nuvens brancas.
            - Azul azul azul azul – disse o eco.
            O menino acordou na superfície, num vasto gramado arborizado. Muito estranho, um mundo dominado por zumbis ter uma grama tão curta e bem-cuidada. Acima, estava o céu, azul com nuvens brancas. Uma, inclusive, parecia sua bochecha.
            Um zumbi vinha caminhando com um andar torto e babando:
            - Você é da nave mãe?
            - Quê?
            - Leve-me à nave BBB ou farei você desfilar na passarela do adeus!
            - Bial?
            Suspense.

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